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O efeito Jesus


No momento em que escrevo este artigo, após a 31ª rodada, o Palmeiras é o líder do Campeonato Brasileiro com 64 pontos, 4 a mais do que o vice-líder Flamengo. O Alviverde possui o melhor ataque da competição com 54 gols, 3 a mais do que o Galo e a segunda melhor defesa do campeonato, com 28 gols tomados, um a mais do que o Atlético-PR. O futebol apresentado pelo Palmeiras é, em números, irrefutável. Mais ainda sob a ótica do valor esperado de gols xG, do qual explico aqui.

No gráfico abaixo, é visível esta dominância do Palmeiras. O xSG, ou valor esperado de saldo de gols, nada mais é do que a diferença entre o valor esperado de gols xG e o valor esperado de gols contra xGC. Basicamente, o xSG diz o quanto se espera que seja o saldo de um time baseado nas finalizações feitas e concedidas do mesmo. Neste critério específico, o Palmeiras sobra. Uma boa maneira de explicar em termos menos abstratos este xSG absurdo do Verdão, é que o Palmeiras cria mais oportunidades de gol do que sua defesa cede. Muito mais.

Muito deste bom desempenho ofensivo do Palmeiras contudo, cai em cima de um jogador apenas. Não há dúvidas de que Gabriel Jesus é o maior talento brasileiro a desfilar nos campos tupiniquins desde Neymar. O jovem atacante palestrino, que fez sua estréia como profissional no ano passado, já é o vice-artilheiro do Brasileirão deste ano com 11 gols em 22 jogos e apenas 19 anos de idade (e teria marcado mais caso não tivesse ido para os Jogos Olímpicos). O bom desempenho lhe rendeu um contrato com o Manchester City de Pep Guardiola, que coçará a cabeça buscando uma forma de incluí-lo no seu já completo time.

Para se ter uma noção do quão diferenciado Gabriel Jesus é do resto dos jogadores do Brasileirão, observe o gráfico abaixo, onde mostramos a relação de xG e finalizações por jogo dos 27 melhores jogadores em valor esperado de gol xG do Campeonato Brasileiro.

Perceba como o atacante palestrino se destoa do resto. Seu alto valor de xG não se deve apenas ao excesso de finalizações que tenta (3 chutes por jogo). Caso fosse, Chávez, Luan e Marinho o acompanhariam na parte de cima do gráfico. O fato é que Gabriel Jesus possui um xG tão alto pela alta qualidade de suas finalizações. Seja por estar bem posicionado na hora do arremate, seja por criar a própria oportunidade, Jesus está num patamar acima dos demais.

Muitos poderão pensar que isto é resultado do estilo de jogo do Palmeiras, que favorece o atacante. Uma hipótese facilmente descartada ao observarmos que Erik, o substituto de Jesus quando o mesmo estava com a Seleção Brasileira, nem se encontra neste gráfico. Erik é o 29º atacante em xG do Brasileirão, com um valor esperado de gols de 0.22 gols por jogo.

Os torcedores palmeirenses já perceberam a falta que um jogador deste naipe faz no time. De fato, o aproveitamento do Palmeiras nos 22 jogos disputados com Gabriel Jesus é de 74% (o Verdão hoje, tem 68.8% de aproveitamento e o Corinthians foi campeão em 2015 com 71% de aproveitamento). Sem Jesus, o aproveitamento cai para 55.5%, o suficiente para garantir a 5ª colocação da tabela.

Além disso, a ausência do atacante provoca uma queda significativa em xG, embora não tão relevante. O Palmeiras sem Gabriel Jesus possui um xG por jogo de 1.58, um número impressionante se observarmos que este ainda é maior que o segundo maior xG do campeonato, o do Flamengo, de 1.47 gols por jogo. Mais impressionante ainda é o xG do Palmeiras quando joga com Jesus: 1.75 gols por jogo. Abaixo podemos observar no gráfico de violinos, o xG dos jogos do Verdão com e sem o artilheiro.

Para deixar claro, gráficos de violinos são gráficos de dispersão que apresentam a densidade de probabilidade dos dados em diferentes valores. Uma maneira simples de entender é, regiões mais "gordas" apresentam uma maior concentração de pontos do que regiões mais magras.

Observe como os pontos dos jogos do Palmeiras com Jesus estão muito mais concentrados à direita do gráfico. Embora o Alviverde sem seu principal artilheiro ainda apresente um ataque fortíssimo, a presença do jovem atacante pesa muito para a qualidade de chances criadas, reflexo do precioso faro de gol que tem Gabriel Jesus.

Importante ressaltar contudo, a aparente mudança de rendimento do time e do próprio atacante depois que ele disputou os Jogos Olímpicos. Considerando apenas os jogos da 16ª rodada para cá, o Palmeiras com Jesus possui um aproveitamento de 75% em 8 jogos disputados, contra 58% de aproveitamento para os outros 8 jogos disputados sem ele. O xG do time com Jesus possui uma média de 1.68 gols por jogo nestas 8 partidas, contra um similar 1.61 gols por jogo sem ele. Além disso, considerando apenas os jogos após o retorno dos Jogos Olímpicos, o xG de Jesus cai para 0.38, atrás apenas de Chávez e Ábila! Ou seja, mesmo que parte dos números seja pela incrível sequência do 1º turno, Gabriel Jesus ainda faz diferença para o time, mesmo que aparentemente não tenha voltado dos Jogos Olímpicos.

Tentamos ilustrar a qualidade do camisa 9 da Seleção Brasileira sob a ótica do xG. Além de se destacar no Brasileirão deste ano, Jesus caiu como uma luva no esquema de Tite na Seleção Brasileira. Não é a toa que ele irá para Manchester em Janeiro. Esperamos que sob o comando de Pep Guardiola e de Tite, ele amadureça e nos presenteie com muitos gols vestindo a Amarelinha.

Sobre

Inspirados em livros como Soccermatics de David Sumpter e Moneyball de Michael Lewis, decidimos utilizar conhecimentos em data science para traduzir em números o maior espetáculo que temos em solo brasileiro.​

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